A Lenda do Linho

 

 

"Fui semente pequenina

Que alguém lançou ao chão

Rebentei, fugi da terra

Tive o Céu por direcção.

 

Eu levei tanta pancada

Tantos maus tratos levei

Nem gosto de me lembrar

Pois até a pele larguei.

Nesta ânsia de crescer

Alguém lá me foi regando

Fiz-me uma linda planta

E alguém me ia tratando.

 

Mas depois disto passar

Eu já gostei do que vi

Comecei a ficar lindo

E quase me envaideci.

Já crescidinho, fiquei

Cheiinho de flores lindas

Tão azuis, da cor do Céu

Eu tinha uma graça infinda.

 

Começaram a esticar-me

E eu dei fio fininho

Meteram-me num tear

E eu dei um lindo paninho.

Ainda cresci mais um pouco

Comecei a amarelar

E sem dó nem piedade

Trataram de me arrancar.

 

Depois desta trabalheira

A belas mãos fui parar

Fizeram em mim tais trabalhos

Que me fazem delirar.

Amarraram-me em molhadas

E eu fiquei em delírio

A partir desse momento

Começou o meu martírio.

Estou vaidoso por poder

Enriquecer os bragais

E poderem fazer comigo

Delicados enxovais.

 

 

E no final da minha história

Sinto orgulho em poder estar

Em casa do rico ou do pobre

Ou em toalha de altar."

     

 

 

 Texto retirado do Livro "Ponto Final" de Júlia dos Santos Magalhães

 

 


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